quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Crepúsculo


Minha mente encontrava-se numa tempestade de pensamentos, angústias e receios. Foi quando me ocorreu que seria oportuno dirigir-me a uma pequena praia, muito próxima de onde resido. Estava certo que seria uma forma de amainar minhas inquietações. Ao sentir meus pés tocarem a areia, ainda morna, percebi que faltava muito pouco para a claridade do sol se esvair naquele lindo e caloroso dia. Incontinenti, me atirei no mar que estava com sua água límpida e mansa. O gosto salgado estava presente entre meus lábios, que se deliciavam com o tempero marcante daquela praia tranquila e confortante. Movendo-me na água em um nado desordenado, minha visão alternava-se entre o horizonte, o céu e o fascinante mundo submerso. Os peixes dançavam em plena união harmoniosa numa coreografia improvisada, que, acredito, só era vista e sentida por mim. No entanto, se possível fosse, encantaria qualquer plateia, até a mais exigente. A esta altura restavam poucos minutos para o sol se pôr. Sem titubear subi num pequeno barco de pesca que estava ancorado e me acomodei para testemunhar o espetáculo que estava por acontecer. O astro rei se acomodava, imponente e glorioso, na linha do horizonte, como que mostrando ao mundo sua missão cumprida e seus intensos raios luminosos se espalhavam por todos os lados e direções. Os pássaros plainavam e cantavam suavemente, anunciando a chegada da primavera, que traria consigo lindas cores e agradáveis aromas. No céu, um degradê indescritível confirmava a natureza como a detentora da mais rica paleta de cores. Diante de tamanha beleza e da forte integração com o Todo, percebi que tudo aquilo que com a minha chegada me perturbava, havia se dissolvido e transformado-se na certeza de que estar vivo é, indubitavelmente, uma dádiva. E assim, por alguns momentos adormeci, com a certeza que me encontrava nos braços de um anjo.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A fada


Há muito não descrevia meus sentimentos, não os colocava no papel, mesmo porquê eles nunca serão, fidedignamente, traduzidos pelas palavras. Subitamente, surge na minha existência uma  fada,  cujas palavras me encantaram sobremaneira, apesar dela não assumir sua capacidade de exteriorizar aquilo que sente. Talvez seja um tratado de fadas, não escreverem coisas tão lindas, sentimentos tão puros. Ou, quem sabe, sejamos nós, os humanos, que não estejamos preparados ou não tenhamos sensibilidade suficiente para captar as sutilezas que elas são capazes de perceber. Um dia brinquei com ela e a perguntei o quanto me amava, ela respondeu, com voz serena, que não poderia atender tal  questionamento, pois o amor é intangível e imensurável, com proporções desconhecidas pelo homem. Eu já esperava uma resposta nesse sentido, mas a cada instante queria confirmar se ela, realmente, é uma fada e constantemente ela vem confirmando isso. Não sei ao certo qual elemental ela é de fato, anjo, fada, elfo... Mas, a forma que eu a vejo é a de fada, a minha perspectiva é essa, a minha experiência estética com relação a ela define-se assim. Talvez, os demais a vejam como um ser humano ou qualquer outra coisa, mas para mim isso é totalmente irrelevante. O interessante é que sinto uma identificação fora do comum com ela, como se eu fosse um elemental também e nós tivéssemos nos encontrado para espalhar alegria e paz pelo mundo todo. Por diversas vezes, pessoas que eu nunca tinha visto antes, me deram sinais que confirmavam essa minha suspeita, elas diziam para eu seguir com a minha missão aqui na Terra, levando a música, a arte, a alegria de viver para todos aqueles que não se permitiam esse desfrute. Realmente, seria egoísmo conhecer as belezas da vida e não compartilhá-las. No entanto, quanto mais eu as compartilho, mais inspiro felicidade superlativa. Não sei quantas pessoas mais conhecerei, quantos elementais, quantos animais, mas de uma coisa estou convicto, cada um deles é especial  e único. Quanto a ela, a fada, deixo que a ordem cósmica nos guie e nos mostre o caminho a ser seguido. Porém,  minha satisfação e alegria se prendem, com certeza, ao fato de podermos seguir de mãos dadas pela trilha do bem.

Lucas Hidalgo.