
Minha mente encontrava-se numa tempestade de pensamentos, angústias e receios. Foi quando me ocorreu que seria oportuno dirigir-me a uma pequena praia, muito próxima de onde resido. Estava certo que seria uma forma de amainar minhas inquietações. Ao sentir meus pés tocarem a areia, ainda morna, percebi que faltava muito pouco para a claridade do sol se esvair naquele lindo e caloroso dia. Incontinenti, me atirei no mar que estava com sua água límpida e mansa. O gosto salgado estava presente entre meus lábios, que se deliciavam com o tempero marcante daquela praia tranquila e confortante. Movendo-me na água em um nado desordenado, minha visão alternava-se entre o horizonte, o céu e o fascinante mundo submerso. Os peixes dançavam em plena união harmoniosa numa coreografia improvisada, que, acredito, só era vista e sentida por mim. No entanto, se possível fosse, encantaria qualquer plateia, até a mais exigente. A esta altura restavam poucos minutos para o sol se pôr. Sem titubear subi num pequeno barco de pesca que estava ancorado e me acomodei para testemunhar o espetáculo que estava por acontecer. O astro rei se acomodava, imponente e glorioso, na linha do horizonte, como que mostrando ao mundo sua missão cumprida e seus intensos raios luminosos se espalhavam por todos os lados e direções. Os pássaros plainavam e cantavam suavemente, anunciando a chegada da primavera, que traria consigo lindas cores e agradáveis aromas. No céu, um degradê indescritível confirmava a natureza como a detentora da mais rica paleta de cores. Diante de tamanha beleza e da forte integração com o Todo, percebi que tudo aquilo que com a minha chegada me perturbava, havia se dissolvido e transformado-se na certeza de que estar vivo é, indubitavelmente, uma dádiva. E assim, por alguns momentos adormeci, com a certeza que me encontrava nos braços de um anjo.

